GESTÃO DO CAIXA

É, por todos sabido, que além da perda na participação de mercado há outro fator que leva uma organização à derrocada – falta de liquidez – ou seja, não ter recursos suficientes para saldar suas obrigações com terceiros e continuar crescendo com resultados positivos.

Imaginar, sonhar ou mesmo planejar investir ou simplesmente gastar dinheiro é um exercício que pode beirar as margens do infinito. Porém, de onde vem o dinheiro para estas aventuras ou mesmo necessidades? Todo recurso é escasso e, por isso mesmo, é muito caro.

Pensemos também que as despesas uma vez contratadas permanecem para que sejam honradas, no seu vencimento. As receitas ainda que negociadas não se tem como certa sua entrada no caixa porque a inadimplência está sempre presente, por motivos múltiplos.

É fundamental a excelência na gestão do caixa da sociedade, considerando que além de controlar a saída e entrada de dinheiro, é indispensável para a administração financeira, no sentido mais amplo da palavra.

A cadeia de valor abaixo, somente ilustrativa, sugere que todas as áreas de uma organização têm transações que influenciam o caixa em maior ou menor intensidade ou frequência, direta ou indiretamente.

Figura 1 – cadeia de valor

Sendo assim, estando presente em toda pirâmide da organização requer informações, no momento exato, de boa qualidade com análises profundas para tomada de decisões corretas, pois erros nestas situações provocam danos nos resultados, muitas vezes irreparáveis.

Planejamento Estratégico do Caixa

Ligados a fatores de longo prazo, influenciados pela macroeconomia e por causas internas e externas à organização, envolvendo a alta administração (diretoria e conselho) em decisões complexas, de longo prazo e exigindo grande volume de recursos, na maioria das vezes.

São analisados em dois aspectos:

  • Capital próprio ou capital de terceiros (empréstimos e financiamentos) – qual a melhor opção, de onde vêm os recursos: serão mostrados os resultados das decisões tomadas sobre a origem dos recursos para as atividades de operações e, principalmente, de investimentos, tais como: financiamentos, empréstimos, aumentos de capital em dinheiro, retenção de dividendos, venda de ativos, entre outros.

Vejam estas diferenças sutis: Os empréstimos são utilizados para suprir as necessidades de capital de giro, na maioria das ocasiões. Já os financiamentos possuem um destino específico, geralmente para patrocinar projetos.

  • Investimentosonde serão aplicados os recursos: obtidos os recursos identificaremos as aplicações quer seja em caráter temporário ou permanente, a saber: aquisição de ativo fixo, compra de ações, aumento da produção ou aumento estratégico dos estoques.

Planejamento Tático do Caixa

  • Ligados a fatores de médio prazo, em larga extensão.
  • Envolvendo o resultado particular de alguma área, como a de vendas ao identificar, por exemplo, a necessidade de campanha publicitária em razão de sazonalidades, lançamento de produtos.
  • Patrocínios de grande porte quer seja esportivo, comercial ou festas comemorativas de repercussão significativa.

Planejamento Operacional do Caixa

  • Ligados a fatores de curto prazo, normalmente.
  • Existem em função do negócio desenvolvido – atividades diárias (vendas, compras, água, luz, telefone, etc.), chamados também por alguns como despesas de custeio, operacionais ou mesmo administrativas.

Deixando em plano inferior esta ferramenta acontecerão danos irreparáveis no desenvolvimento do seu negócio, pois com a vigilância metódica de seus fluxos de pagamentos e recebimentos é possível avaliar a evolução dos negócios e seus resultados, além de tomar decisões ágeis e tempestivas, especialmente em relação à disponibilidade para investimentos, evitando-se, destarte, escassez de recursos financeiros, diminuição do risco de se tomar empréstimos com terceiros sem analisar, em detalhes, suas consequências.

Excessos de caixa também precisam ser monitorados para que se evitem possíveis efeitos colaterais.

A gestão do caixa traz benefícios do tipo:

  • Não confundir faturamento com recebimentos, assim como não confundir EBITDA positivo ou lucro líquido com dinheiro em caixa;
  • Ajudará a responder a insistente pergunta dos investidores:

“A companhia deu lucro, mas não vi um centavo no caixa. Onde está o dinheiro”?

  • A decidir se os recebimentos são maiores que os pagamentos, quais as oportunidades de investimento ou aplicação desses recursos;
  • Analisar eventual saldo negativo de caixa e imediatamente, iniciar ações para sair desta incômoda posição;
  • Entender se o momento é de buscar capital de terceiros para aportar no negócio;
  • A gestão excelente do caixa possibilita estabelecer o montante de capital de giro disponível, ou não, para a organização, ensejando refletir sobre as políticas de ajustes de preços, criar programas de gerenciamento de gastos, estabelecer uma política de investimento mais agressiva ou mesmo reduzir seu ritmo.

Visão esquemática do fluxo de caixa:

Figura 2 – fluxo de caixa esquemático

Ao nos depararmos com alguma escassez de recursos precisamos entender as diferenças entre as duas fontes de recursos para uma tomada de decisão, mas lembrando de que a utilização de capital próprio ou de terceiros ou ambos requer uma série de análises que variam em função de cada empresa, de acordo com a conjuntura macroeconômica e fatores internos e externos, mas que não será alvo de considerações, neste trabalho.

Capital próprio é o recurso investido diretamente pelo fundador ou proprietário e pelos sócios ou acionistas. Também se enquadram nesta definição os recursos de investidores que compram uma participação na sociedade tornando-se sócios e, consequentemente, também donos.

O capital próprio faz parte do Patrimônio Líquido e não precisa ser devolvido porque será pago através da distribuição dos dividendos.

Capital de terceiros, é o recurso que não tem origem de sócios, acionistas ou do lucro das atividades sendo, portanto, originário de entidades externas e é aportado através de contratos de empréstimo ou financiamento, com prazos e taxas previamente definidos, em outras palavras são dívidas contraídas com agentes fora da organização que deverão ser devolvidas de acordo com o contratado em termos de prazos, valores e encargos.

Normalmente, quando o empresário pensa em contratar empréstimos ou financiamentos não vislumbra como uma opção muito atraente, pois vai contrair dívidas que terá que pagá-las com juros e outros encargos

No entanto, é uma decisão recomendada em alguns casos, principalmente, se a velocidade de crescimento que se quer adotar é grande.

  1. Em momentos de expansão, via novos projetos, como aumento da capacidade instalada da fábrica, quer por expansão da planta ou dos equipamentos, ou mesmo modernização da indústria, com embarque de novas tecnologias;
  2. Aumento da produção considerando que há ociosidade na fábrica e a necessidade de comprar mais matéria prima é notória e mesmo o aumento da força de trabalho;
  3. Também é possível o surgimento de uma oportunidade única para aquisição de novos ativos e exploração de um mercado em potencial ou mesmo agredir o mercado ocupado com estratégias ousadas;
  4. Necessidade de reforço de caixa para continuar a operação em virtude alguns momentos de crise e situação adversa.

Neste momento, cabem algumas observações importantes:

Nas situações descritas nos itens 1, 2 e 3 análises profundas devem ser feitas que deverão culminar com um plano de negócios de alta qualidade, considerando que o financiamento deverá ser liquidado acrescido do serviço da dívida. Portanto, as novas investidas deverão ser lucrativas bastantes para pagar o capital de terceiro e ter excedentes para os acionistas. Não é possível imaginar que o empreendimento não tendo sido bem sucedido vamos nos apresentar ao Banco, confessar a derrota e dizer que não vamos pagar. O Banco é possivelmente, um parceiro e não um sócio correndo risco no negócio.

É oportuno e necessário acrescentar que se enxergamos um negócio com retorno excepcional sobre o investimento, com risco reduzido, não vemos razões para que seja postergado, evitado ou repelido.

Quanto ao item 4 deverá ser um empréstimo de curto prazo para que traga oxigênio suficiente para a empresa respirar e buscar as causas fundamentais que a levaram para a situação desconfortável.

Recomenda-se, fortemente, uma visita aos processos da cadeia de valor, acima mostrada, em busca destas causas.

Erico Barros

Erico Barros

Conselheiro e sócio do Aquila, é administrador com especialização em economia e finanças pela University of Cambridge e avaliação de negócios governamentais pela USP. Participou do Program for Management Development da Harvard University e integrou a 1° missão de executivos brasileiros ao Japão, em 1991. Atua há mais de três décadas com a gestão de organizações de diversos segmentos. Autor do livro técnico, Análise Financeira – Enfoque Empresarial (2016).

Compartilhe:

Compartilhar no linkedin
Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter