Gastos não identificados – um convite à gastança

A máscara de “gastos diversos”, “outros gastos”, “despesas gerais” ou similares.

Não há o menor sentido em fazer previsões ou estabelecer metas nestas contas e por quê?

Toda empresa deve ter seu plano de contas estruturado de tal forma que as despesas de qualquer natureza e relativas à operação e administração estejam classificadas por aplicação e por centro de custos.

Caso haja gasto não classificado nas contas, deve ser esporádico, pontual e de pequeno valor. Além disso, deve ser autorizado e justificado na esfera competente e devidamente explicado quando das prestações de contas mensais.

Não se propaga que as contas da espécie estão proibidas, pois as despesas esporádicas e pontuais não justificam, pelo custo, sua criação e manutenção. Ressalta-se que não se faz previsão do que não se conhece – se não dizem respeito à operação não são previsíveis. Havendo tais gastos, devem ser rigorosamente policiados e jamais contabilizados em valas comuns, pois não haverá responsáveis. Não se admite a criação de um responsável por “gastos não identificados”.

Gastos “impostos pela matriz”.

Em algumas ocasiões, encontram-se despesas, principalmente em multinacionais, em que o gasto é decidido pela casa matriz, e a contratada pela matriz cobra preços que poderiam ser obtidos, sem perder a qualidade, localmente. Trata-se, certamente, com certeza, de uma situação delicada, pois não é conveniente a troca da empresa para o trabalho local, por basear-se, fundamentalmente, em uma relação de confiança entre a casa matriz e a empresa contratada, além da necessidade da manutenção dos mesmos critérios.

Deve-se analisar a situação, mostrando-se fatos e dados à matriz e, provando-se, finalmente, que o custo elevado traz impacto no resultado final e no produto, levando a tirar, localmente, a competitividade necessária para permanência no mercado. Isto colocado poderia ser sugerido que a diferença encontrada entre o preço local e a contratada seja paga pela matriz, pois a realidade local é diferente e a contratada é vital para os fins desejados pela casa matriz. Em última análise, a casa matriz fica ciente do custo adicional que está sendo pago.

Gastos “ditos estratégicos”.

Vez por outra se encontram ditos gastos estratégicos. Deve ser extremamente crítica a análise de tais despesas para que se confirme se são realmente estratégicos e necessários.

Por exemplo, uma planta industrial ocupando cerca de 40% da área do terreno da empresa, logicamente, paga limpeza, conservação, vigilância, impostos e tudo mais pela totalidade da propriedade e não pela área instalada.

Perguntando-se a razão de tamanho gasto em cima de tão grande ociosidade, a resposta quase sempre é infalível – “é uma decisão estratégica”, por tratar-se de espaço vital e necessário para futura expansão.

Nada de errado existiria se fatos e dados fossem apresentados para justificar a decisão estratégica, além do “feeling” de que um dia haverá um programa de expansão e de que os gastos adicionais não estão comprometendo os resultados da organização, o desempenho do produto no mercado, tampouco as demais partes interessadas.

Gastos desta natureza devem ser apartados do global e analisados quanto à oportunidade de sua continuação e, principalmente, refletindo sobre quem os pagará, pois provavelmente o mercado não os absorverá.

Se os gastos são inoportunos, devem ser eliminados ou apartados, evitando-se, destarte, a transferência da incompetência gerencial para o produto ao esperar que o consumidor os pague, trazendo prejuízos fundamentais para a gestão empresarial.

Erico Barros

Erico Barros

Conselheiro e sócio do Aquila, é administrador com especialização em economia e finanças pela University of Cambridge e avaliação de negócios governamentais pela USP. Participou do Program for Management Development da Harvard University e integrou a 1° missão de executivos brasileiros ao Japão, em 1991. Atua há mais de três décadas com a gestão de organizações de diversos segmentos. Autor do livro técnico, Análise Financeira – Enfoque Empresarial (2016).

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