O desafio permanente da utilização de conceitos e ferramentas de Melhoria Contínua nas organizações | os 3 K´s (Kaizen, Kaikaku e Kakushin)

Em projetos de consultoria organizacional, nos vemos constantemente desafiados a utilizar conceitos e ferramentas para melhoria contínua nos processos de nossos clientes, independente do estágio ou maturidade em gestão.

O objetivo deste artigo é detalhar e resgatar três conceitos importantíssimos, demonstrar suas diferenças e em especial sua aplicação conjunta dentro do Lean Thinking (filosofia criada pela Toyota para evitar desperdícios).

Introdução

O conceito de Kaizen têm sido estudado e aplicado há décadas por muitas empresas no mundo todo, bem como seu antagonista o Kaikaku. Há de se destacar o relevante papel das empresas de Consultorias em Gestão, indutoras da aplicação dos conceitos e técnicas de melhoria.

Em dezembro de 2006, Katsuaki Watanabe, CEO da Toyota mencionou pela primeira vez um novo conceito: KAKUSHIN no artigo do The Wall Street Journal “As rivals catch up, Toyota CEO spurs big efficiency drive”. Resumidamente, seria assim:

  • Kaizen = 改善  = mudança + boa = melhoria, melhoria contínua;
  • Kaikaku = 改革  = mudança + revolucionária = mudança radical, transformação;
  • Kakushin = 革新 = nova + revolucionária = inovação, renovação, disruptiva.

KAIZEN

Há cerca de 40 anos, a Filosofia Kaizen entrou na cultura ocidental através da indústria automotiva e tornou-se um dos pilares do progresso das organizações.

Kaizen é a palavra japonesa composta dos ideogramas: “Kai” que significa mudança e “Zen” significa para melhor. Ou seja, mudança para melhor. É uma abordagem para resolver problemas, seja tanto uma dificuldade que precisa ser resolvida quanto uma situação ou estado indesejado.

No mundo da Qualidade e do Lean Thinking é traduzido como Melhoria Contínua através de pequenas mudanças incrementais.

Aplicado ao local de trabalho, Kaizen estabelece a melhoria contínua envolvendo gerentes, supervisores, analistas e operadores, todos os dias e em todos os lugares, estruturando a permanente melhoria do processo. São muitas pequenas melhorias, mudanças incrementais que implementadas produzem resultados significativos de modo mais rápido e com menor risco.

Alguns princípios, entretanto, devem ser observados para a aplicação do Kaizen:

  • Todo desperdício deve ser eliminado;
  • As ações focadas no local onde se cria realmente valor, ou seja, o chão de fábrica;
  • Todos os trabalhadores devem se envolver no processo de melhoria;
  • A orientação final é a melhoria dos processos;
  • As ações não demandam investimento financeiro alto;
  • É viável dentro de qualquer local ou empresa, em qualquer parte do mundo;
  • As melhorias obtidas divulgadas, para que exista uma comunicação transparente;
  • Priorizar a melhoria das pessoas, através das equipes, sabedoria e autodisciplina;
  • Sempre aprender na prática.

O Kaizen, com sua melhoria contínua e incremental, impulsiona processos consistentemente melhores num ciclo virtuoso, indispensável ao funcionamento saudável de qualquer empresa.

Se bem aplicado, atende à necessidade premente das empresas de entregar bens e serviços ao cliente mais rapidamente, mantendo o nível de qualidade e com menor custo possível!

KAIKAKU

Kaikaku é uma mudança radical ou revolucionária, transformação. É uma grande melhoria, uma atividade grande e abrangente, normalmente iniciada e liderada pelos executivos ou alta administração.

Permite que as organizações reformem e transformem sua cultura e hábitos de trabalho em grande escala, através da implementação de mudanças fundamentais nos sistemas de produção existentes, na busca de resultados extraordinários.

Num cenário normal, as atividades de Kaizen acontecem regularmente até um patamar em que pequenas melhorias já não suficientes para atender os objetivos desejados e necessidades estratégicas ou simplesmente apresentam retornos cada vez mais decrescentes.

E agora, o que fazer? Kaikaku.

Exemplo: quando executamos projetos para reduzir o tempo de produção, implementamos o 5S ou redesenhamos uma linha de montagem, estamos implementando o Kaizen. Por outro lado, quando introduzimos um novo material mais leve para ser usado no veículo ou instalamos robôs para soldar as peças de um veículo, isto é: Kaikaku.

A virada do milênio trouxe um segundo momento onde aconteceu o Kaikaku 2.0, ou seja, a necessidade urgente de obter melhorias significativas através de transformações intensas, mas sem investimento financeiro. Nasceu da crise, da premente necessidade de obter resultados importantes em curto prazo e sem grandes investimentos.

Aplicar o Kaikaku 2.0 significa:

  • Estabelecer prioridades claras e absolutas ao esforço de progresso
  • Aplicar os princípios, ferramentas e métodos do Kaizen, mas de outro jeito
  • Concentrar recursos humanos e técnicos em massa nas prioridades
  • Dedicar 100% do tempo das pessoas de forma organizada e qualificada
  • Reduzir ao mínimo possível os prazos de estudo e implantação das soluções
  • Reduzir os custos necessários ao esforço, mas sem evitar investimentos
  • Buscar uma boa alternativa de implantação imediata e não a solução ótima

Evidentemente um esforço desse nível somente pode ser iniciado pela Alta Administração, uma vez que esperamos que as mudanças tragam resultados que afetem significativamente os negócios.

KAKUSHIN

Temos então o terceiro tipo de melhoria é o Kakushin, que significa literalmente inovação, ou seja, renovação radical. Nos últimos 10 anos, o avanço das tecnologias da informação e da comunicação, sobretudo, têm modificado produtos, processos e serviços prestados.

Neste conceito, as mudanças resultam de um completo afastamento da situação existente, alterando totalmente sua infraestrutura, seus parâmetros e premissas básicas.

A inovação radical é uma mudança que atinge e altera a base das coisas. Ao realizar uma mudança radical numa casa não trocamos a pintura das paredes, mas sua fundação, materiais e estrutura.

Em um negócio, esse tipo de mudança pode ocorrer em produtos, métodos de gestão, processos e afins, sempre se caracterizando pelo rompimento dos princípios-chave dos modelos anteriores e início de um novo ciclo.

Kakushin pode atingir o patamar de inovação disruptiva que, ao mesmo tempo, desestabiliza uma situação consolidada e cria uma nova situação de mercado.

Pode ser um novo produto com um conceito completamente diferente ou um sistema e produção inovador e disruptivo. Parte da criatividade, da pesquisa, de um novo conceito para o produto, onde o investimento é importante, mas o esforço intelectual é muito mais.

Exemplo: Pensando num caso de Tecnologia da Informação, isso pode significar substituir um aplicativo completo por outro bem diferente que suporte o processo de uma maneira totalmente distinta, por exemplo, um aplicativo baseado na Web que automatiza o registro de pedidos, a entrega de faturas e a geração de uma ordem de coleta ao atender pedidos.

COMPARAÇÃO ENTRE KAIZEN, KAIKAKU E KAKUSHI

Esses três conceitos se complementam de maneira positiva para melhorar um processo ou um serviço, atingir resultados mais significativos e assegurar a sobrevivência do negócio.

Quadro Comparativo das Diferenças

Uma segunda diferença está no tempo de realização e implementação de cada K. Vejamos no gráfico abaixo:

Análise

Enquanto o Kaizen acontece entre dias e semanas, Kaikaku leva diversos meses e o Kakushi pode tomar anos entre seu desenvolvimento e implantação.

CONCLUSÃO

Uma organização consiste em sistemas, onde o intercâmbio de informações e o feedback são cruciais para atingir um estado melhor a partir do estado atual.

Para que as organizações permaneçam competitivas na economia atual, é essencial que elas adotem simultaneamente os três importantes conceitos de Kaizen (Mudança para Melhor), Kaikaku (Mudança Revolucionária) e Kakushin (Inovação).

Neste aspecto, a contribuição das empresas de Consultoria em Gestão é fundamental, pois possuem método, ferramentas e profissionais com a expertise adequada para aplicar e implementar os conceitos!

Do contrário, a inexistência de algum dos 3K cria um sério risco para a competitividade da empresa. Isso acontece por:

  • manter processos ineficientes e de um custo operacional fora do mercado
  • incapacidade de atender novos requisitos dos clientes
  • perda ou atraso na aplicação de tecnologias transformadoras do mercado
  • impossibilidade de desenvolver soluções já oferecidas pelos concorrentes
  • dificuldade de gerenciar as mudanças necessárias
  • forte e progressiva perda de participação no mercado.
Bruno Starling

Bruno Starling

Bruno Starling Simão é Consultor e Sócio do Aquila. Administrador de empresas com especialização em negócios e finanças pela FUMEC e IETEC. É certificado em gerenciamento de projetos pela IPMA (International Project Management Association), sediada na Holanda. Atuou em projetos em empresas públicas e privadas, como: Banco Central do Brasil, Oi, Infraero, Secretaria de Educação de SP, Ifood, entre outras. Atua há mais de 16 anos com a gestão de organizações de diversos segmentos.

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