Valor de ativos será foco das auditorias.

Efeito da retração econômica pós-pandemia levanta dúvidas sobre capacidade de geração de lucros

A perda de valor dos ativos das empresas deve ser o principal ponto de atenção de auditores na análise das demonstrações financeiras das companhias brasileiras em 2020, segundo Francisco Sant’Anna, presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon).

O prejuízo recorde divulgado na semana passada pela Petrobras, com uma reavaliação de R$ 65 bilhões de ativos de exploração e produção, exemplifica de forma contundente a questão.

A avaliação é que, em meio à crise provocada pela pandemia da covid-19, a perda de valor de ativos e questões envolvendo riscos de descontinuidade operacional ganhem ainda mais importância nas análises.

Em 2019, o tema que recebeu maior atenção das auditorias durante a análise das demonstrações financeiras pelos auditores foi a receita, segundo pesquisa do Ibracon, a qual o Valor teve acesso. O cenário, diz Sant’Anna, era bem diferente. “Havia uma recuperação da economia com a perspectiva de aprovação das reformas, aumento na confiança dos empresários e melhores números de consumo. Isso fez com que questões relacionadas à receita fossem o foco das empresas e consequentemente um assunto principal para os auditores”, afirma o presidente do Ibracon.

Para o estudo, foram analisados os chamados principais assuntos de auditoria (PAAs), uma seção no relatório anual de auditoria que acompanha as demonstrações financeiras, na qual são reportados os tópicos que foram considerados mais relevantes por eles naquele exercício.

Foram analisadas as demonstrações financeiras de 94 das 96 empresas que fazem parte do índice IBrX-100 da B3. Duas delas não haviam disponibilizado seus relatórios.

Em 43% dos relatórios, a receita foi apontada como principal ponto de atenção. Questões envolvendo provisão para contingências, passivos contingentes e discussões judiciais apareceram em segundo lugar, com 40% das menções. O valor recuperável de ágio é a terceira, com 31%.

No ano anterior, em meio às disputas de companhias na Justiça pela exclusão do ICMS na base de cálculo do PIS-Cofins, os temas mais comuns eram provisão para contingências, passivos contingentes e discussões judiciais, além da receita. “Os PAAs refletem muito o momento vivido pelas empresas. Quando tudo está muito ruim pode haver uma grande preocupação com o valor recuperável de ágio. Por outro lado, se o momento é muito bom, a maior preocupação é com a receita”, diz Sant’Anna.

Os PAAs passaram a aparecer nos relatórios de auditores em 2016, após uma mudança no formato dos documentos. A partir daquele ano, auditores começaram a divulgar em quais áreas ou temas eles gastaram mais tempo para análise, além de comentar o trabalho feito e sua conclusão.

Na época, a inclusão dos tópicos gerou discussões, com algumas companhias temendo o aumento dos custos e a maior exposição pública de temas que, até então, ficavam restritos aos auditores e ao comitê interno de auditoria. A divulgação foi defendida como uma maneira de melhorar o acesso à informação por investidores e analistas.

Fonte: Valor Econômico

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