O foco dela é Gestão Educacional

Entrevistada pela coluna Donos do Pedaço do jornal Estado de Minas, Maria Helena Godoy, referência técnica do Aquila, falou sobre a aplicação da gestão à educação e os resultados obtidos em milhares de instituições de ensino por todo o país

Ela começou seus estudos universitários no curso de psicologia da PUC Minas, cursando até o sétimo período, quando resolveu se transferir para o curso de pedagogia, entendendo que sua área de atuação seria, por questão vocacional, a educação. Maria Helena Godoy concluiu, então, os estudos de pedagogia em 1994, já tendo, até essa época, estudado e vivenciado experiências muito significativas na gestão aplicada à área educacional. A partir daí, decidiu se dedicar intensivamente ao tema e teve a oportunidade de trabalhar em projetos educacionais na Fundação Christiano Ottoni (FCO), no Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG) e no Instituto Aquila. Nessa caminhada, coordenou projetos em cerca de 4 mil escolas no Brasil, distribuídas em 10 estados. Como um produto complementar desse envolvimento com o tema, foram redigidos 13 textos, sendo oito em coautoria. Nesse conjunto de textos, três são livros infantis e dois foram traduzidos para o espanhol. É coordenadora de projetos educacionais da Fundação de Desenvolvimento Gerencial (FDG), que tem por objetivo trabalhar de forma sistemática e metódica com conceitos e ferramentas gerenciais aplicados à educação.

Qual a avaliação da senhora sobre a qualidade da educação pública no Brasil?

Lamentavelmente, a educação, uma área reconhecidamente prioritária para o desenvolvimento de um país, não tem apresentado as melhorias necessárias aos avanços econômicos e sociais. O último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) demonstra que, exceto pelo ensino fundamental 1, que apresentou melhorias, a educação básica está estagnada. Se considerarmos que, periodicamente, formamos sucessivamente gerações que vêm tendo acesso a um sistema que não funciona a contento, pode-se deduzir que fica adiado e muito comprometido o salto de qualidade que precisamos dar para entrarmos no rol dos países desenvolvidos. Um dado divulgado recentemente dá conta de que teremos, em 2035, o maior bônus demográfico da nossa história. Isso significa dizer que, nesse período, teremos o maior índice de jovens e adultos em idade produtiva já registrado. Diante disso, a busca pela excelência na educação torna-se ainda mais urgente e imperiosa, para que o país possa se beneficiar da melhor forma possível deste momento.

Nas manifestações do ano passado, no país, muito se falou de qualidade na educação. Sempre atrela-se à qualidade a questão da valorização do professor em sala de aula. Qual a visão da senhora sobre isso?

A qualidade da educação está intimamente atrelada à qualidade do professor. Pesquisas indicam que, isoladamente, é esse o fator que mais impacto tem na produção de resultados na educação. Há necessidade, portanto de políticas públicas que possam atrair mais jovens com formação sólida para o magistério. Em paralelo, uma reforma nos currículos das universidades de formação de docentes que reforcem, sobretudo, a prática.

É quase senso comum que o investimento pesado deve ser feito na educação básica, retendo alunos no ensino médio, preparando toda uma geração para o ensino superior. Na visão da senhora, o que precisa ser feito para isso de fato ser colocado em prática?

Sem dúvida nenhuma, para que a educação no país possa deslanchar, o foco deve ser o ensino básico, a começar pelo ensino fundamental 1 e 2, garantindo a qualidade e impedindo que nossas crianças e jovens desenvolvam uma defasagem de conhecimento que possa comprometer os níveis seguintes da sua formação e, até mesmo, a sua carreira profissional. Esse desafio passa, seguramente, pela preparação adequada de professores e pela participação efetiva dos pais. No Brasil, segundo pesquisas recentes, somente 12% dos pais se comprometem efetivamente com a educação dos filhos. Apoiar, incentivar e contribuir com tarefas de casa e ler, em especial para os mais novos, têm impacto significativo nos resultados. E coroando, a gestão para acompanhar esses processos, avaliar e tomar ações corretivas, se necessárias.

O Brasil tem uma série de índices para avaliar os níveis de aprendizado das crianças e jovens na educação. Os estados também têm índices próprios. Qual a opinião da senhora sobre esses índices. Afinal, eles estão atrelados realmente à busca por resultados melhores ou simplesmente existem para dar um norte para as políticas públicas?

Pelo fato de trabalhar de forma sistemática e metódica com conceitos e ferramentas gerenciais aplicados à educação, aprendi a ver os números como algo absolutamente necessário, para propor mudanças e obter melhorias. Quem não mede não gerencia. De fato, é preciso gerenciar com fatos e dados, para não incorremos no erro de desperdiçar recursos, tempo e talentos das pessoas na tomada de decisões em cima de achismo. Os índices mais conhecidos foram concebidos para medir desempenhos e, obviamente, favorecer a tomada de ações locais e nacionais pertinentes para melhoria de resultados e, em paralelo, subsidiar políticas públicas. Para exemplificar, o Ideb é visto como um indicador inteligente, exatamente pelo fato de conseguir reunir na mesma equação o fluxo (taxa de aprovação) e o desempenho, medido na Prova Brasil. Entretanto, apesar de óbvio, é bom mencionar que o indicador, por si só, não muda resultado. Em nosso país, as mudanças nas políticas públicas são reconhecidamente morosas e, portanto, esses indicadores não têm cumprido, com a presteza e urgência necessárias, o papel de apontar intervenções com foco em resultados de melhorias e de políticas públicas. Isso é gestão e, felizmente, tem acontecido rotineiramente em nossas escolas e redes parceiras.

Como foi que a senhora enxergou na gestão uma oportunidade para aplicar conceitos gerenciais à educação?

Sou, por natureza, idealista e sempre sonhei em poder fazer a diferença na área educacional, por entender, desde muito cedo, o apelo social e os benefícios dessa mudança para uma sociedade mais justa e igualitária. Nunca me conformei, por exemplo, com a ideia determinista de que criança de baixa renda estaria fadada a não se desenvolver por meio da educação, tendo em vista a pouca convivência que trazia, em sua bagagem de experiências, com esse mundo letrado e, na atualidade, com a tecnologia. Sempre acreditei que a origem dessas crianças poderia sim, explicar algumas dificuldades e a existência de desafios maiores, mas, de forma alguma, criar uma baixa expectativa quanto ao seu futuro. Quando tive acesso aos conhecimentos básicos de gestão aplicados à educação, ainda, como universitária, foi grande a minha ansiedade para acompanhar a implementação desses princípios e verificar os resultados. Foi fácil descobrir que o simples fato de se estabelecer uma meta fazia uma grande diferença também na área educacional. As metas dão o norte, motivam as pessoas a sair do lugar-comum, a buscar práticas alternativas e, como não poderia deixar de ser, obter melhores resultados.

A metodologia GIDE, idealizada pela senhora, é baseada em quê? Ela é replicável a várias escolas, independentemente de realidade e localização?

O sistema GIDE – Gestão Integrada da Escola – visa à melhoria dos resultados do processo ensino-aprendizagem, atividade-fim da escola. A principal característica da GIDE é a integração dos aspectos pedagógicos, estratégicos e gerenciais. Esses instrumentos de gestão eram, anteriormente, trabalhados de forma fragmentada, o que significava retrabalho, acarretando desperdício de tempo e talento dos gestores. A prática da integração possibilitou uma sequência lógica e racional das atividades gerenciais, partindo do projeto político-pedagógico, conhecido e exigido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação. O objetivo é levar a comunidade a refletir sobre a escola existente, o que se quer para o futuro e como chegar lá. Outro diferencial se deve ao indicador da GIDE, que possibilita economia de tempo na produção de resultados. O IFC/RS – Índice de Formação de Cidadania e Responsabilidade Social disponibiliza uma lista de causas que, comprovadamente, interferem nos resultados, como frequência de professores e alunos, atratividade das aulas, participação dos pais e implementação do currículo. Basta a escola inserir dados numéricos correspondentes a esses fatores de maior impacto que o indicador acende um farol (vermelho, verde ou amarelo). Na sequência, deve-se elaborar um plano de ação contendo contramedidas para as variáveis de faróis vermelhos e amarelos e implementá-las como planejadas. É preciso acompanhar a implementação do plano de forma sistemática e persistente, fazendo as ações corretivas sempre que necessário. Os resultados virão com toda certeza. A aplicabilidade é geral e independe da situação de cada escola. As peculiaridades das escolas e/ou redes serão detectadas pelo IFC/RS, o que orientará a formulação dos planos de ação, sendo específicos para atacar as realidades de cada escola.

A Fundação de Desenvolvimento Gerencial trabalha com a implantação de gestão nas escolas. Como é feito esse trabalho – vocês oferecem o serviço a partir da demanda do Estado ou da prefeitura local? Como é essa atuação?

A FDG é hoje uma instituição assistencial, de acordo com o que prescreve o Novo Código Civil Brasileiro. Dedica-se à melhoria de resultados na área educacional, aplica seus recursos e capta patrocínios para conduzir suas atividades na área pública. Anualmente, fazemos encontros para apresentação de resultados de escolas parceiras. Para esses encontros, são convidadas novas redes e escolas para que tomem conhecimento da metodologia. Para se alcançar sucesso nesse trabalho, porém, é preciso que a rede ou escola (pública ou particular) tenha comprovada liderança. Aliás, este é um dos requisitos mais importantes para se obterem resultados. Sem liderança, não se chega a lugar algum.

Estado de Minas – Edição 21 de dezembro de 2014 – Negócios e Oportunidades, por Cristiana Andrade

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